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quarta-feira, 30 de julho de 2008

eu te amo

te amo
como o mar ama a praia
e mareia para beijá-la

te amo
como a lua ama o sol
e enluara o mesmo céu

te amo
como a chuva ama a terra
e chora para poder tê-la

te amo
como as nuvens amam o céu
e nublam para poder tê-lo

te amo
como o beija-flor ama suas flores
e beijam seu doce néctar

te amo
simplesmente
como me amas

Conto

Ele acordou com os trovões. Sentiu o cheiro intenso de terra molhada que entrava pela janela aberta. Pingos grossos de água começaram a molhar o chão do quarto. Olhou o relógio, mas não teve certeza das horas. Não lembrava se o horário de verão havia realmente começado ou era mais um de seus sonhos. Sentou na cama e acendeu um cigarro. Ah, que horror! Não podia fumar, sentia nojo daquilo, sentia nojo de si. Como pudera ser tão infantil. Colocou o cigarro na beirada da janela e ficou olhando ele diminuir e ir virando cinzas... Esperou em vão que uma fênix surgisse daqui. A chuva continuava forte e o quarto se enchia de luz branca e sonora repetidamente. Em certo momento ele teve certeza de vê-la no canto do quarto, sorrindo... E ele sabia que não era pra ele. Ela nunca havia sorrido pra ele. Todo o tempo ela sorria para que os outros a vissem sorrindo, para demonstrar possuir uma felicidade que não era sua.
Foi até a janela e sentia as gotas de chuva gelando seu peito. De repente sentiu uma vontade enorme de que um raio o partisse ao meio. Tirou a camisa e de costas para a rua esperava por um raio e que acordasse em outro mundo. Iria para o inferno. Como Rita uma vez lhe dissera, iria para o inferno. Rita tinha razão. Ele nunca fora feliz. Mesmo com as grandes conquistas, os bons empregos, o carro novo, mesmo com tudo que adquiria e com todos a quem conquistara, mesmo com o bom projeto que havia realizado na empresa, ele sabia que não seria feliz. Nunca. E iria para o inferno.
Acendeu mais um cigarro, mas não o levou a boca. Enfim, já estava no inferno. Saiu da janela. Apesar da chuva gelada, não sentia frio. A casa estava abafada. Toda ela já era o próprio inferno. Por um instante teve medo de abrir a porta. Por um instante teve a certeza de que ela estaria no corredor e ela seria o próprio demônio.
Seus olhos encheram de lágrimas. Sentiu-se mais uma vez infantil. Abriu a porta e foi ao banheiro. Urinou. Ao sair desviou seu olhar do espelho. Era como se sentisse vergonha. Na cozinha verificou se as luzes do vizinho já estavam acesas. Sim, já. Deixou a janela aberta. Já não chovia mais, havia um vento fresco vindo da rua. Verificou os cartões de crédito, as senhas, todos os valores, a chave do carro, queimou as fotografias dela... Fechou a caixinha. Olhou a sua volta e verificou que tudo estava no lugar certo. Tudo limpo e organizado. Lembrou-se de Carlo. Mais tarde, Carlo lhe agradeceria, talvez tivesse receio no início, mas ficaria bem.
Foi ao banheiro. Finalmente, olhou-se no espelho. Sentia uma tristeza estranha, que de repente se transformou em raiva. Tinha ódio de Rita.
O telefone tocou. Sentiu mais raiva ainda. Foi até a sala com a toalha na mão. Atender? Podia ser ela...
- Alô? Disse uma voz feminina.
Ele sabia que não era Rita, mas não sabia quem era...
- Tom? Antônio, sei que está aí...
Quem era? Esperou que falasse...
- Desculpe ligar essa hora, sei que é domingo, mas a Rita... Tom, eu preciso que venha comigo... não encontrei os pais dela por telefone...
Sempre Rita! Sentiu vontade de desligar o telefone, mas não se mexeu.
- Os pais dela foram viajar esta semana e ela ficou aqui em casa... Nós estávamos indo a uma festa, mas ela se precipitou para a rua.
- Fale, Ana!
- Ela está muito mal... O carro fugiu na hora... os médicos disseram que não há muito o que fazer...
- Estou indo!
- Antônio...
Desligou e saiu correndo. Pegou a carteira e as chaves, vestiu uma camisa nova e saiu.
Ligou o carro e, logo em seguida, o rádio: "Sempre estar lá e ver ele voltar, não era mais o mesmo, mas estava em seu lugar"
Viu Carlo varrendo a calçada e lhe acenou.
Sentiu-se bem. Quase feliz... Livre, como há muito tempo não se sentia.

moleque

brasil
país do futebol
um menino
preto como o asfalto
torto
chuta uma lata de refrigerante
e faz um gol
embaixo do carro