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sábado, 12 de fevereiro de 2011

Samba da Bênção

Vinicius de Moraes / Baden Powell


É melhor ser alegre que ser triste
Alegria é a melhor coisa que existe
É assim como a luz no coração

Mas pra fazer um samba com beleza
É preciso um bocado de tristeza
É preciso um bocado de tristeza
Senão, não se faz um samba não



Senão é como amar uma mulher só linda
E daí? Uma mulher tem que ter
Qualquer coisa além de beleza
Qualquer coisa de triste
Qualquer coisa que chora
Qualquer coisa que sente saudade
Um molejo de amor machucado
Uma beleza que vem da tristeza
De se saber mulher
Feita apenas para amar
Para sofrer pelo seu amor
E pra ser só perdão



Fazer samba não é contar piada
E quem faz samba assim não é de nada
O bom samba é uma forma de oração

Porque o samba é a tristeza que balança
E a tristeza tem sempre uma esperança
A tristeza tem sempre uma esperança
De um dia não ser mais triste não



Feito essa gente que anda por aí
Brincando com a vida
Cuidado, companheiro!
A vida é pra valer
E não se engane não, tem uma só
Duas mesmo que é bom
Ninguém vai me dizer que tem
Sem provar muito bem provado
Com certidão passada em cartório do céu
E assinado embaixo: Deus
E com firma reconhecida!
A vida não é brincadeira, amigo
A vida é arte do encontro
Embora haja tanto desencontro pela vida
Há sempre uma mulher à sua espera
Com os olhos cheios de carinho
E as mãos cheias de perdão
Ponha um pouco de amor na sua vida
Como no seu samba



Ponha um pouco de amor numa cadência
E vai ver que ninguém no mundo vence
A beleza que tem um samba, não

Porque o samba nasceu lá na Bahia
E se hoje ele é branco na poesia
Se hoje ele é branco na poesia
Ele é negro demais no coração



Eu, por exemplo, o capitão do mato
Vinicius de Moraes
Poeta e diplomata
O branco mais preto do Brasil
Na linha direta de Xangô, saravá!
A bênção, Senhora
A maior ialorixá da Bahia
Terra de Caymmi e João Gilberto
A bênção, Pixinguinha
Tu que choraste na flauta
Todas as minhas mágoas de amor
A bênção, Sinhô, a benção, Cartola
A bênção, Ismael Silva
Sua bênção, Heitor dos Prazeres
A bênção, Nelson Cavaquinho
A bênção, Geraldo Pereira
A bênção, meu bom Cyro Monteiro
Você, sobrinho de Nonô
A bênção, Noel, sua bênção, Ary
A bênção, todos os grandes
Sambistas do Brasil
Branco, preto, mulato
Lindo como a pele macia de Oxum
A bênção, maestro Antonio Carlos Jobim
Parceiro e amigo querido
Que já viajaste tantas canções comigo
E ainda há tantas por viajar
A bênção, Carlinhos Lyra
Parceiro cem por cento
Você que une a ação ao sentimento
E ao pensamento
A bênção, a bênção, Baden Powell
Amigo novo, parceiro novo
Que fizeste este samba comigo
A bênção, amigo
A bênção, maestro Moacir Santos
Não és um só, és tantos como
O meu Brasil de todos os santos
Inclusive meu São Sebastião
Saravá! A bênção, que eu vou partir
Eu vou ter que dizer adeus



Ponha um pouco de amor numa cadência
E vai ver que ninguém no mundo vence
A beleza que tem um samba, não

Porque o samba nasceu lá na Bahia
E se hoje ele é branco na poesia
Se hoje ele é branco na poesia
Ele é negro demais no coração

Amizade

A amizade é como cristal
uma vez quebrada,
nunca será igual.


Das Utopias

Mario Quintana

Se as coisas são inantingíveis . . . ora!
Não é motivo para não quere-las...
Que triste os caminhos, se não fora
A mágica presença das estrelas!



quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

Smooth

Acho essa música muito boa:

Santana e Rob Thomas

Man it's a hot one
Like seven inches from the midday sun
I hear you whisper and the words melt everyone

But you stay so cool
My muñequita, my spanish harlem Mona Lisa

You're my reason for reason
The step in my groove

And if you say this life ain't good enough
I would give my world to lift you up
I could change my life to better suit your mood

Cause you're so smooth

And it's just like the ocean under the moon
Well that's the same as the emotion that I get from you
You got the kind of lovin that can be so smooth
Give me your heart, make it real
Or else forget about it

I'll tell you one thing
If you would leave it would be a crying shame
In every breath and every word I hear your name calling me out
Out from the barrio, you hear my rhythm from your radio
You feel the turning of the world so soft and slow
Turning you round and round

And if you say this life ain't good enough
I would give my world to lift you up
I could change my life to better suit your mood
Cause you're so smooth

domingo, 20 de junho de 2010

Porco-espinho

Durante a era glacial muitos animais morriam por causa do frio. Os porcos-espinhos, percebendo a situação, resolveram juntar-se em grupos. Assim, se agasalhavam e se protegiam mutuamente, mas os espinhos de cada um feriam os companheiros mais próximos, justamente os que ofereciam mais calor.

Decidiram, então, afastar-se uns dos outros e começaram de novo a morrer congelados. Assim, precisaram fazer uma escolha: ou desapareciam da Terra ou aceitavam os espinhos dos companheiros. Com sabedoria, decidiram voltar a ficar juntos. Aprenderam a conviver com as pequenas feridas que a relação muito próxima podia causar, já que o mais importante era o calor do outro. Foi desta forma que sobreviveram.

O melhor relacionamento não é aquele que une pessoas perfeitas, mas aquele no qual cada um aprende a conviver com os defeitos do outro e admirar suas qualidades.

domingo, 24 de agosto de 2008

uma visão do futuro: 2097

Hoje, na véspera de meus cento e onze anos vejo que o mundo não é mais o mesmo que conheci no final do século XX. Aos vinte anos, eu tinha tanto medo de ser rejeitada pela sociedade com relação ao que pensava e escrevia e acreditava que acabei desistindo e escondendo as poucas linhas que surgiram. Hoje, vejo que aquilo era uma grande bobagem, já que toda a sociedade que eu temia já se foi e apenas eu fiquei esperando alguém que quisesse ler-me.
Ano passado perdi um bisneto, coisa que eu nunca imaginaria acontecer comigo nos meus vinte anos, quando eu nem imaginava ter bisnetos.
Amanhã alguém irá telefonar para entrevistas, perguntar o que faço para viver tanto e, mais uma vez, como venho respondendo nos últimos vinte anos, responderei que a escolha não foi minha, mas de algum anjo que quis que eu ficasse aqui um pouco mais. Sei que todos os meus antepassados me esperam em algum lugar do infinito.
Completei ontem cinqüenta e dois anos sem ligar uma televisão. No aniversário de cinco anos de minha primeira tataraneta lhe dei de presente um livro, que talvez ela nunca leia, mais que obriguei meus filhos a ler. Dói muito ver seus filhos atravessarem a Grande Porta, e todas as outras pessoas que você quer bem e mal, e você ficar esperando que num dia ou numa noite qualquer, Ela lhe entregue o passaporte que espero há mais de trinta anos, desde que a Terceira Guerra Mundial acabou e os Estados Unidos se entregaram a uma civilização que todos julgavam acabada há séculos.
Há três anos o então presidente do Brasil me entregou uma medalha de honra ao mérito por ser a pessoa mais “velha” a continuar votando. E eu perguntei a ele na frente de toda a imprensa: “Você me entregará esta medalha mesmo sabendo que eu não votei em você e nunca votei no seu partido?” Por um instante julguei seus olhos marejados de lágrimas. Ele me respondeu que isso jamais importaria para ele e para o povo brasileiro, já que eu era um exemplo de cidadania. Deu-me um abraço forte. Serviu-me um chá verde que recusei e lhe pedi iogurte natural.
Desde então arrumei um pretexto para não votar, uma viagem, um aniversário, um livro novo...
Já li todos os livros que pude querer ler e ainda hoje os releio e me desfaço deles. Escuto as músicas da minha juventude na Internet, músicas de cem, noventa anos atrás, as quais eu ouvirei pelo resto de minha vida.
Todas as noites alguém de meu passado, senta comigo à janela para ver o luar ou a chuva ou o vento. Ontem uma antiga professora conversava sobre “O Pequeno Príncipe”, de Saint-Exupéry. Sonhei depois que a morte não vinha pela serpente, mas pela raposa que cativa-nos pouco a pouco.
Viajei muito durante minha vida, hoje não há nenhum lugar que eu ainda queira conhecer ou rever, há não ser museus e bibliotecas, nos quais penetro sem identificação ou permissão, porque todos já me conhecem e me deixam andar livremente por todas as alas, ou ainda, as raríssimas paisagens verdes a perder de vista, que existem mais em minha memória do que pelo mundo.
Ao contrário do que muitos pensam, não estou triste, às vezes fico ansiosa e me deito achando que estou morrendo, mas me canso disso e vou para o computador responder meus e-mails ou ler algum livro que já conheço de cor.
Não há mais espelho sem minha casa. Sei que Joice, minha assistente tem um pequenino que ela esconde dentro da bolsa para que eu não veja. Também não há televisores e a pobre Joice passa horas com os ouvidos no rádio, já que nossos gostos musicais não combinam.
Na minha casa existem paredes onde meus filhos, meus netos, bisnetos, minha pequena tataraneta (que tem o nome de minha tataravó) e o meu Grande Amor escreveram recados para mim, desenharam ou simplesmente riscaram alguma coisa. São muito raros e valem todo um Potosí, pelo menos pra mim.
Vou dormir às dez da noite e levanto às seis da manhã, bebo iogurte, como muitas frutas e muito peixe, apesar das frutas e dos peixes não terem o mesmo gosto de antes.
Sinto falta de uma única pessoa: o meu marido. Meu amigo, namorado, esposo, amante. Sinto falta do seu cheiro, seu jeito, sua companhia e do sorriso que manteve até a última noite, da qual ele não acordou mais. Sei que ele, meus filhos, meus amigos e amigas, meu pai e minha mãe, meus avós, tios e tias, irmãos e irmãs, primos e primas me esperam no topo da Grande Escada.
Cansei de pedir para ir.
Agora apenas espero. O desconhecido. A única viagem que ainda farei. Sozinha.

meninos e meninas

Brasil
País do futebol
Um menino
Preto
Como o asfalto
Torto
Chuta uma latinha
E faz um gol
Embaixo do carro

Brasil
País do carnaval
As meninas
Quase nuas
Como as praias
Sem pessoas
Pelas esquinas
Sem idade alguma
Se vendem

Ah, esse meu jeito
Torto
De enxergar a
Vida
Se é que ainda
Se pode enxergar
Algo que não seja
Torto ou
Errado

Ah, esse meu jeito
Tonto
De pensar no
Mundo
De pensar num jeito
Para conserta-lo
Ou até mesmo
Concerta-lo
Se adiantar

Ah, essas crianças
Mudas
Que deixam de brincar
Com flores
Pra pedir esmola
Na sinaleira
Que passam pela escola
Sem ao menos
Entrar ou pensar nela
Ah, Esse menino na
Bicicleta
Com olhos que brilham
Sem luz
Que espera
Que imagina
Que sonha
Que talvez ama
Mas não possui
Essas crianças
Que nunca
Terão saudade
Da aurora
De suas vidas
Nem das tardes (que não são)
Fagueiras
Nem das bananeiras
Nem dos laranjais
Sem um banho
Fresco
No verão
Sem um banho
Quente
No inverno
Sem colo
Sem pai
Sem mãe
E assim essas crianças
Calam
Sem ter a quem falar
E assim esses adultos
Falam
Sem ter quem escutar
E assim a vida continua
Torta
Apenas por continuar

terça-feira, 12 de agosto de 2008

JANELAS EM JANEIRO

de minha janela
vejo janelas
e nas janelas
que vejo de minha janela
vejo vida pelas janelas
diálogos
brigas
pais
filhos
namoros
rolos
de minha janela
vejo janelas
vejo além das janelas
almoços
jantares
tapas
beijos
de minha janela
vejo, não apenas janelas
sacadas
joão-de-barros
jardins
jarros
jasmins
jipes
jornais
jovens
de minha janela
vejo janelas
nas vidraças das janelas
que vejo de minha janela
vejo minha janela

quarta-feira, 30 de julho de 2008

eu te amo

te amo
como o mar ama a praia
e mareia para beijá-la

te amo
como a lua ama o sol
e enluara o mesmo céu

te amo
como a chuva ama a terra
e chora para poder tê-la

te amo
como as nuvens amam o céu
e nublam para poder tê-lo

te amo
como o beija-flor ama suas flores
e beijam seu doce néctar

te amo
simplesmente
como me amas

Conto

Ele acordou com os trovões. Sentiu o cheiro intenso de terra molhada que entrava pela janela aberta. Pingos grossos de água começaram a molhar o chão do quarto. Olhou o relógio, mas não teve certeza das horas. Não lembrava se o horário de verão havia realmente começado ou era mais um de seus sonhos. Sentou na cama e acendeu um cigarro. Ah, que horror! Não podia fumar, sentia nojo daquilo, sentia nojo de si. Como pudera ser tão infantil. Colocou o cigarro na beirada da janela e ficou olhando ele diminuir e ir virando cinzas... Esperou em vão que uma fênix surgisse daqui. A chuva continuava forte e o quarto se enchia de luz branca e sonora repetidamente. Em certo momento ele teve certeza de vê-la no canto do quarto, sorrindo... E ele sabia que não era pra ele. Ela nunca havia sorrido pra ele. Todo o tempo ela sorria para que os outros a vissem sorrindo, para demonstrar possuir uma felicidade que não era sua.
Foi até a janela e sentia as gotas de chuva gelando seu peito. De repente sentiu uma vontade enorme de que um raio o partisse ao meio. Tirou a camisa e de costas para a rua esperava por um raio e que acordasse em outro mundo. Iria para o inferno. Como Rita uma vez lhe dissera, iria para o inferno. Rita tinha razão. Ele nunca fora feliz. Mesmo com as grandes conquistas, os bons empregos, o carro novo, mesmo com tudo que adquiria e com todos a quem conquistara, mesmo com o bom projeto que havia realizado na empresa, ele sabia que não seria feliz. Nunca. E iria para o inferno.
Acendeu mais um cigarro, mas não o levou a boca. Enfim, já estava no inferno. Saiu da janela. Apesar da chuva gelada, não sentia frio. A casa estava abafada. Toda ela já era o próprio inferno. Por um instante teve medo de abrir a porta. Por um instante teve a certeza de que ela estaria no corredor e ela seria o próprio demônio.
Seus olhos encheram de lágrimas. Sentiu-se mais uma vez infantil. Abriu a porta e foi ao banheiro. Urinou. Ao sair desviou seu olhar do espelho. Era como se sentisse vergonha. Na cozinha verificou se as luzes do vizinho já estavam acesas. Sim, já. Deixou a janela aberta. Já não chovia mais, havia um vento fresco vindo da rua. Verificou os cartões de crédito, as senhas, todos os valores, a chave do carro, queimou as fotografias dela... Fechou a caixinha. Olhou a sua volta e verificou que tudo estava no lugar certo. Tudo limpo e organizado. Lembrou-se de Carlo. Mais tarde, Carlo lhe agradeceria, talvez tivesse receio no início, mas ficaria bem.
Foi ao banheiro. Finalmente, olhou-se no espelho. Sentia uma tristeza estranha, que de repente se transformou em raiva. Tinha ódio de Rita.
O telefone tocou. Sentiu mais raiva ainda. Foi até a sala com a toalha na mão. Atender? Podia ser ela...
- Alô? Disse uma voz feminina.
Ele sabia que não era Rita, mas não sabia quem era...
- Tom? Antônio, sei que está aí...
Quem era? Esperou que falasse...
- Desculpe ligar essa hora, sei que é domingo, mas a Rita... Tom, eu preciso que venha comigo... não encontrei os pais dela por telefone...
Sempre Rita! Sentiu vontade de desligar o telefone, mas não se mexeu.
- Os pais dela foram viajar esta semana e ela ficou aqui em casa... Nós estávamos indo a uma festa, mas ela se precipitou para a rua.
- Fale, Ana!
- Ela está muito mal... O carro fugiu na hora... os médicos disseram que não há muito o que fazer...
- Estou indo!
- Antônio...
Desligou e saiu correndo. Pegou a carteira e as chaves, vestiu uma camisa nova e saiu.
Ligou o carro e, logo em seguida, o rádio: "Sempre estar lá e ver ele voltar, não era mais o mesmo, mas estava em seu lugar"
Viu Carlo varrendo a calçada e lhe acenou.
Sentiu-se bem. Quase feliz... Livre, como há muito tempo não se sentia.

moleque

brasil
país do futebol
um menino
preto como o asfalto
torto
chuta uma lata de refrigerante
e faz um gol
embaixo do carro